Pesquisa é coordenada pelo professor Alexandre Zeitune, da sala de 'altas habilidades'. Série do G1 mostra iniciativas que transformam vidas por meio da educação.
Coletar amostras, fazer testes e criar hipóteses são rotinas, normalmente, mais associadas ao cotidiano de um cientista ou estudante universitário. Os termos passaram a fazer parte, também, de 20 alunos com "altas habilidades" de uma escola pública de Sobradinho, no Distrito Federal.
O termo se refere às crianças que, na linguagem comum, são chamadas de "superdotadas". Na sala de recursos do colégio, os alunos tentam aperfeiçoar as tecnologias – criadas por eles mesmos – de combate às larvas do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, da febre chikungunya e do vírus da zika.
Quem coordena a equipe de jovens cientistas é o biólogo e professor de robótica Alexandre Zeitune, de 44 anos. Ele dá aulas para as crianças com altas habilidades desde 2010. O trabalho deu resultado: neste ano, a turma foi convidada a firmar parceria com a Agência Espacial Brasileira.
Desde setembro, os estudantes e o tutor deles saem às ruas de Sobradinho II para coletar larvas do mosquito. Já no laboratório, o banco de dados internacional é abastecido com dados sobre os insetos, a umidade e a temperatura do ponto de coleta.
"Tentamos desenvolver projetos que minimizem a vida do mosquito e seguimos um protocolo de análise de águas paradas", explica. "Fazemos a coleta das larvas na comunidade e, depois, a identificação do tipo".
"Percebo que a comunidade se sente muito orgulhosa dos estudantes, que fica satisfeita em saber que a escola está ultrapassando os muros."
O G1 conversou com o professor para entender como a pesquisa tem sido usada, na prática, para ajudar a região de Sobradinho no enfrentamento ao mosquito.
A reportagem faz parte da série "Professores que transformam", em homenagem ao Dia do Professor – comemorado nesta segunda-feira (15). Ao todo, o G1 vai mostrar quatro histórias que têm mudado vidas por meio da educação.
Quem é o Alexandre?
Mesmo com a parceria com a Agência Especial Brasileira, no dia a dia, é Alexandre quem dá tutoria à pesquisa dos 20 alunos do projeto de ciências do Centro de Ensino Fundamental 08, em Sobradinho II.
Entre as pesquisas de destaque, uma equipe está testando como a eletricidade pode ser usada na água para matar larvas do Aedes aegypti.
Em fase de testes, os alunos estão buscando soluções para atrair o mosquito para a água parada e, assim, estimular choques para interromper o ciclo de vida. O dispositivo é de custo baixíssimo – capacitores retirados de sucata – e, quando aperfeiçoado, pode ser produzido em larga escala.
"As armadilhas vão eletrificar a água e matar constantemente o mosquito."
Ele conta que foi a agência espacial quem manifestou interesse pelo tipo de pesquisa desenvolvida no laboratório. As turmas reunem alunos de 10 a 17 anos.
"Os alunos já tinham manifestado interesse em participar desse protocolo, em mexer com microscópios, com outras tecnologias", afirma.
Superdotação
A turma é considerada "especial" pelo professor. Ao perceber o interesse dos alunos pela tecnologia, Alexandre decidiu buscar uma nova formação acadêmica que complementasse a primeira graduação em biologia.
O professor diz que a busca por uma atualização do currículo já era um desejo, mas se tornou uma "necessidade extrema" conforme o trabalho ia sendo desenvolvido. Além do conteúdo diretamente relacionado à pesquisa, Alexandre precisava dominar os temas até para ter "assunto" no bate-papo com os estudantes.
"Para mim, ajudá-los é mais que um trabalho, é uma responsabilidade e uma missão."
A dedicação do professor e dos alunos ultrapassou os experimentos iniciais, e converteu o laboratório até em uma "consultoria" em tecnologia.
"Agora, somos consultados por empresas brasileiras que querem apresentar produtos de robótica. Os alunos analisam, e devolvem com sugestões", conta o professor, orgulhoso.
Um exemplo é a quantidade de prêmios acumulados pelo grupo. Desde a primeira competição, em 2013, os alunos da sala de altas habilidades têm sido vitoriosos em eventos como a Olimpíada Brasileira de Robótica. No ano passado, a equipe conquistou o 3º lugar na edição nacional.
Resultados para comunidade
Além da consultoria para as empresas, a pesquisa dos alunos acompanhados por Alexandre começou a se expandir dentro da própria rede de ensino. Ao G1, o professor contou que a turma foi estimulada a desenvolver tecnologias para incentivar o ensino de robótica em outros colégios.
"Toda a inteligência que eles desenvolvem tem que ter uma finalidade positiva e direcionada para o bem público, à comunidade."
Além dos estudos teóricos, o grupo é estimulado a desenvolver ações de "impacto e relevância social". Como resultado, alguns dos próprios alunos de Alexandre já estão dando "aulas" de robótica para outros colegas do ensino fundamental. "Isso é uma das nossas grandes vitórias", diz.
"Coloco muito isso em sala de aula: não adianta nada ser muito inteligente, se isso não for usado para o bem. Faço com que eles acreditem em si mesmos e sigam em frente."
FONTE: https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2018/10/14/escola-do-df-e-agencia-espacial-brasileira-desenvolvem-tecnologia-de-combate-ao-aedes-aegypti.ghtml