Para Zahi Hawass, ex-ministro egípcio de Antiguidades,
destruição de sarcófagos e múmias no Museu Nacional legitima esforços para
repatriar objetos egípcios em museus estrangeiros.
Famoso por participação em documentários, Zahi Hawaas
participa de movimento por repatriação de objetos egípcios (Foto: Zahi
Hawaas/Divulgação)
Ex-ministro de Antiguidades do Egito, o arqueólogo Zahi
Hawass diz que o incêndio que destruiu boa parte do acervo do Museu Nacional –
que incluía a maior coleção de arte egípcia da América Latina – foi uma
tragédia também para seu país.
"Como pode um grande museu numa cidade tão grande ficar
desguarnecido e desprotegido contra incêndios?", questiona Hawass em
entrevista à BBC News Brasil.
"Foi uma falha da equipe do museu ou do governo? Não
sei, mas foi um crime que nos faz lamentar muito", afirmou.
Segundo o arqueólogo, "todo museu no mundo faz testes de
incêndio para garantir que o sistema de alarme funcione". Ele diz que a
tragédia legitima o movimento pela repatriação de objetos egípcios em museus
espalhados pelo mundo. "Se eles não forem protegidos, deverão voltar à
terra mãe", diz.
Campanha pelo retorno da arte egípcia
Famoso por suas participações em documentários sobre o Egito
Antigo, Hawass ganhou ainda mais visibilidade nos últimos anos ao endossar uma
campanha pelo retorno da arte egípcia presente em outros países.
Sarcófago da Dama Sha-Amun-em-su era uma das principais peças
da coleção egípcia do Museu Nacional
(Foto: Antonio Brancaglion/Museu
Nacional) Sarcófago da Dama Sha-Amun-em-su era uma das principais peças da coleção
egípcia do Museu Nacional (Foto: Antonio Brancaglion/Museu Nacional)
Sarcófago da Dama Sha-Amun-em-su era uma das principais peças
da coleção egípcia do Museu Nacional (Foto: Antonio Brancaglion/Museu Nacional)
Após dirigir instituições responsáveis por alguns dos
principais monumentos egípcios – como as pirâmides de Gizé e as ruínas de
Saqqarah e Al-Wāḥāt al-Baḥriyyah –, ele foi nomeado em 2002 secretário-geral do
Conselho Supremo de Antiguidades, órgão do governo responsável pela preservação
do patrimônio.
Em 2011, Hawass chefiou por alguns meses o Ministério de
Antiguidades após a criação do órgão, até a queda do presidente Hosni Mubarak,
em meio à Primavera Árabe.
Ele diz que visitou o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em
2009. "Eu vi como as crianças de escolas corriam para ver as múmias e pude
ver que os artefatos eram muito importantes", afirma.
Entre os 700 itens da coleção egípcia, havia sarcófagos,
estátuas, amuletos, bronzes e múmias – a maioria dos períodos mais tardios da
história egípcia, como o Reino Novo (1550 AC a 1077 AC) e o Terceiro Período
Intermediário (1069 AC a 664 AC).
Esquife de Hori
integra a coleção adquirida por D. Pedro 1º e é provavelmente oriunda de
Tebas (Foto: Museu Nacional/Divulgação) Esquife de Hori integra a coleção adquirida
por D. Pedro 1º e é provavelmente oriunda de Tebas (Foto: Museu Nacional/Divulgação)
Esquife de Hori integra a coleção adquirida por D. Pedro 1º e
é provavelmente oriunda de Tebas (Foto: Museu Nacional/Divulgação)
Segundo Hawass, a melhor peça da coleção era o esquife
(sarcófago) de uma cantora do santuário do deus Amun chamada Sha-Amun-em-su. O
objeto, com 1,58 metro, data da 23ª Dinastia (cerca de 750 AC) e foi
presenteado pelo Quediva (vice-rei) do Egito, Ismail, ao imperador D. Pedro 2º
durante sua viagem ao Egito, em 1876.
O arqueólogo destaca ainda a coleção de gatos e crocodilos
embalsamados e "uma múmia muito peculiar de uma rainha do Período
Romano" (entre os séculos 4 e 6).
Coleção egípcia do Museu Nacional
Hawass diz que as peças do Museu Nacional não estavam entre
as coleções que arqueólogos egípcios tentam repatriar, pois "muito desses
itens deixaram o Egito como presentes ou num período em que o comércio de
antiguidades era legal no país".
Vários objetos que o movimento pretende recuperar saíram do
Egito quando a nação era um protetorado britânico (1882-1953) e potências
europeias enriqueciam os acervos de seus museus com objetos retirados das
colônias.
Entre os itens mais cobiçados estão a Pedra de Roseta, hoje
no Museu Britânico (Londres), e o busto da rainha Nefertiti, do Museu Egípcio
de Berlim.
Peça que pertencia ao
sarcófago de uma mulher e integra a coleção egípcia do Museu Nacional (Foto: Museu Nacional/TV Globo)
Peça que pertencia ao sarcófago de uma mulher e integra a
coleção egípcia do Museu Nacional (Foto: Museu Nacional/TV Globo)
Há movimentos pela repatriação de objetos artísticos em
vários países. No Brasil, pesquisadores, autoridades e indígenas tentam
recuperar vários fósseis e artefatos que estão em museus estrangeiros - como os
mantos tupinambás, exuberantes peças de plumária cujos últimos seis
remanescentes estão na Europa.
Embora a coleção do Museu Nacional não estivesse na mira dos
arqueólogos egípcios, Hawass diz que a destruição do acervo reforça o movimento
pela repatriação de objetos.
"Este incidente nos permite pedir à Unesco (Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) para que países com
coleções no exterior, e museus no exterior, tenham controle sobre essas
coleções, para que possamos garantir que esses objetos sejam protegidos e
restaurados adequadamente."
E se os museus estrangeiros não forem capazes de garantir a
segurança e conservação dos objetos, o arqueólogo defende que sejam devolvidos
à terra natal.
"Acho que essa é uma decisão que a Unesco pode tomar,
porque o incêndio foi devastador para todos nós."
Acesse e conheça a nossa história pelo site http://www.museunacional.ufrj.br/.
IMAGENS DO MUSEU.